quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Erri de Luca - a mastigar um caroço de azeitona e a falar da felicidade


Erri de Luca, nascido em 20 de Maio de 1950, fez de tudo na vida: militante revolucionário a tempo pleno, operário, motorista em comboios de ajuda humanitária, exilado na Jugoslávia a ser bombardeado pela NATO. Agora, é escritor de uma seda pura, com uma palavra rigorosa, que nunca tem uma letra a mais. Por isso é devorado pelos seus leitores, tendo-se tornado rapidamente um escritor de culto.
Entre as seis dezenas de títulos que já escreveu, estão publicados em português: Montedidio e Três Cavalos (ed. Âmbar), Tu, Meu e Em Nome da Mãe (ed. Quetzal). As suas histórias regressam muitas vezes a Nápoles, cidade onde nasceu e viveu até aos 18 anos, num pós-guerra marcado pela pobreza e pela reconstrução — mas esse retorno não é feito de nostalgia, antes nos devolve futuros roubados, iludidos, esperançados. Também a sombra do Vesúvio, junto à cidade, e Ischia, a ilha onde passava os Verões, são paisagens dessas fugas de Erri de Luca.


FOTO: DANIEL ROCHA / PÚBLICO

Para apresentar O Dia Antes da Felicidade (ed. Bertrand), o escritor veio a Lisboa. Há mais de vinte anos, Luca decidiu começar a ler a Bíblia e aprender hebraico (também sabe russo e já traduziu Puskin). Tornou-se assim tradutor de livros bíblicos (e vão sete) e crítico de muitas das traduções que se fazem da Bíblia — e disso dá exemplos, nesta entrevista. No seu Caroço de Azeitona (ed. Assírio & Alvim), além de nos podermos encontrar de novo com a sua escrita poética e transparente, ficamos a conhecer também histórias e interpretações acerca de personagens bíblicos. Caroços para trincar depressa.

É nesse sentido que fala da Bíblia como um caroço de azeitona?
     Sim. As palavras que lia de manhã, especialmente quando trabalhava como operário, tinha-as como companhia para todo o resto do dia. Remastigava-as no trabalho das obras e fazia como se fosse um caroço de azeitona que me ficava na boca.